domingo, 3 de setembro de 2017

Aparências: máscara para outros problemas?

              Em uma breve passagem pela estação de trem e metro da Barra Funda observei que havia uma exposição de fotografias da série “Dentro, Arte Viva e Profusão”, do Senac, em parceria com a CPTM, a parte da exposição que se encontra – até o dia 11 de setembro – na estação Barra Funda é intitulada "Profusão: Uma multiplicidade de culturas, lugares, problemas, dentro de um contexto chamado São Paulo. Essa exposição traz retratos e situações que mostram um cenário desapercebido e que faz parte da composição poética que permeia a vida dos que transitam pela cidade”.
                Na sua composição a obra apresenta diversas fotografias com os mais variados temas entre: cultura, diversidade religiosa e afins. No entanto, o que mais chamou a atenção foi o fato de eu ter permanecido próximo à exposição durante uns 20 minutos, no máximo, e pude observar qual era a imagem que mais chamava a atenção das pessoas que se dispunham a olhar as fotos, essas eram as imagens de duas pessoas com um visual menos casual do qual a sociedade está “acostumada” a observar. Em um lado havia um homem e no seu verso uma mulher, ambos com tatuagens, piercing e cortes de cabelos “diferentes”.
                A partir de um momento de reflexão se pode observar onde está o problema da sociedade em que vivemos, há tantos problemas que devem, de fato, ser observados e não o são. Questões de saneamento – na exposição havia a imagem de um contraste comum na cidade de São Paulo: imagem de uma região onde não há sinal de investimento em saneamento básico – ou seja, essa imagem de precariedade que atinge várias famílias nas periferias de São Paulo não causa tanto “espanto” quanto a aparência de uma pessoa desconhecida.
                O que pode ter nos levado a isso? Quais estruturas que moldam a nossa sociedade fizeram com que nos alienássemos a ponto de nos importarmos com a aparência de um estranho, mais do que nos importarmos com o que realmente interfere em nossas vidas de maneira direta? Seria a estrutura educacional? Familiar? Cultural? Política? Ou foram todas essas, visto que elas formam uma rede, na qual uma interfere diretamente na outra?
               Não é só a aparência do outro que chama a atenção das pessoas mais do que deveria; suas escolhas, opções e aspirações causam o mesmo impacto, se não um impacto maior. 
                Em um mundo onde os meios de comunicação nos guiam a dar tanta importância a coisas fúteis ao invés de nos estimular a pensar e a sermos críticos, ditando seus padrões de beleza e comportamento tão inalcançável para meros mortais como eu e como você. Isso chega a um nível de perversidade tão grande, pois quando você não “se encaixa nas medidas”, sejam elas físicas ou comportamentais, você é tido como louco – o que tangencia a ideia apresentada por  Michel Foucault em sua explanação sobre a tríade Conhecimento, Verdade e Discurso – é difícil saber onde esse Mundo Caos irá levar a humanidade. Conseguiremos acordar? Ou permaneceremos dormindo, submersos no mar de medidas e regras ditado pela sociedade medíocre na qual estamos inseridos.
Imagem: tive a oportunidade de registrar uma família que observou a exposição, em determinado momento, estes chegaram ao ponto de tirar um fotografia ao lado da foto que, a garota na imagem observa. Meu objetivo não é julgar e sim tentar trazer uma reflexão a cerca do problemas que permeiam a nossa sociedade.

domingo, 20 de agosto de 2017

O Mercantilismo e Sua Época


Relatório de Análise Crítica - História das Relações Internacionais I

            O mercantilismo, que era, um conjunto de ideias e práticas que caracterizaram um período de transição feudo-capitalista na sociedade europeia entre os séculos XVI e XVIII é caracterizado como decorrência de transformações pelas quais a sociedade da época passou. A primeira transformação seria o fim da forma feudalista – que transitava para uma fase capitalista – de sociedade; e a segunda seria o período de quem que essas transformações ocorreram de fato, fase essa onde houve a ocorrência de uma dualidade de formas, uma mistura de feudalismo com capitalismo. Duas indagações são feitas, essas com o intuito de “marcar” a época que ficaria conhecida como Época Mercantilista, sendo elas: o que é a época mercantilista e o que não é a época mercantilista. O mercantilismo não tem como principal traço o modo de agir mercantilista – essência mercantilista – que é ligada ao modo com o qual o comerciante age, mas um traço importante do mercantilismo é a capacidade de poupar e lucrar com a comercialização, o chamado Capitalismo Comercial.
          A transição feudal-capitalista, em seu nível econômico, é marcada por: crises, revoluções, o aparecimento e expansão das atividades industriais, como a manufatura; expansão das atividades econômicas europeias e surtos populacionais. Um dos níveis estruturais mais interessantes – em minha opinião – decorrentes dessa transição é sem dúvidas o nível político-jurídico. Nível de transição esse, onde começa o processo onde surgem os Estados Modernos. Nesse nível de transição, do mesmo modo que o capitalismo comercial não é a completa antítese do modo de produção feudal, o caráter do Estado, ou seja, o seu regime político, não pode ser considerado feudal, tampouco, pode ser considerado um como um regime de natureza capitalista, outrossim, não pode ser considerado como um regime com caráter de neutralidade entre esses dois regimes (feudal e capitalista), isso torna – ao meu ver e com informações do texto – esse período como um período político- jurídico com um caráter completamente indefinido. Um personagem que se toma um papel de suma importância no período de transição feudo-capitalista, vulgo período mercantilista, é o príncipe que tende a tomar as principais decisões.
           Em se tratando da transição feudal-capitalista no seu nível ideológico, devemos lembrar que esse período de transição é decorrente de um processo de crise estrutural da época, no período que era compreendido o regime feudal a igreja tinha uma grande representatividade e influencia que com o período de transição sofreu bastante mudança, visto que houve uma mudança de pensamentos de: medieval e católico para moderno, secular e burguês. Acontecimentos que influenciaram essa mudança de pensamentos foram em grande parte vindos das Reformas Protestantes, onde começou a ser contestada a autoridade de igreja católica. Como exemplo dessa ruptura igreja-povo é citado Maquiavel, um clássico da filosofia política, que ressaltava a importância de uma ruptura em a igreja e o estado (moral x política) com objetivo de tirar a dependência da igreja em decisões de Estado. Sendo assim esse terceiro nível [ideológico] teve como principal cenário em sua transição feudo-capitalista a ruptura dos pensamentos entre a igreja e o estado.
           Sendo assim, podemos notar que o mercantilismo teve um papel muito importante no processo de transição entre o feudalismo e o capitalismo, visto que, ele foi a estrutura de sustentação da transição entre esses dois regimes. Período de transição, esse, que foi a base, o molde, por assim, dizer das estruturas nas quais a sociedades da Idade Moderna e também da Idade Contemporânea estava/está inserida até hoje, seja em seu aspecto econômico, político e/ou ideológico. 

FALCON, Francisco; “O Mercantilismo e Sua Época”; in  A Época Pombalina: Política Econômica e monarquia  ilustrada. pp. 21-59 

Velhas e Novas Formas de Direita e Autoritarismo: Facismo


                   O Fascismo teve seu início no final da 1ª metade do século XX, entre os anos de 1930 e 1940. Ele engloba o que é conhecido como “Nova Direita”, que se deu por alguns motivos como a Crise Capitalista de 1929, a Crise do Petróleo e a mais atual a Crise Financeira de 2008. O termo Nova Direita vem do fato de que as pessoas pertencentes à essa vertente não respondem à uma oligarquia tradicional, ou seja, à uma Direita tradicional.
            As principais características da Nova Direita são: ultranacionalismo, antiliberalismo, anticomunismo, valorização da violência, estrutura econômica integrada e regulada, mobilização das massas com a militarização das relações políticas, personalismo, militarização da política e xenofobia. Para esse sistema político a igualdade, que é um dos objetivos da Esquerda, seria prejudicial à sociedade, visto que ela atrapalharia a evolução da sociedade quando aplicado o conceito Darwinismo Social. Alguns movimentos com esses princípios foram os movimentos Europeus: Nazismo e Nazifascismo. No Brasil o Fascismo pode ser observado por meio do Movimento Integralista.
            Como dito o Fascismo teve seu impulso, no Brasil, através do movimento Integralista. O movimento foi fundado por Plínio Salgado com a criação do partido de extrema-direita AIB (Ação Integralista Brasileira) em 1932; e tinha como traços: o sentimento de antiesquerda, o nacionalismo, a signologia e o autoritarismo. Ao contrário do que se pode pensar, o movimento integralista tem ojeriza aos neoliberais e a essa vertente da Direita, uma das únicas coisas que eles compartilham é a aversão ao comunismo. Mais atualmente algumas tribos urbanas deram um novo fôlego ao integralismo no Brasil, ele recomeçou em 2010, mas se destacou no ano de 2013 durante os protestos e manifestações do mês de junho (manifestação dos 20 centavos). O Fascismo brasileiro, que foi engendrado por Plínio Salgado difere do estilo Europeu em se tratando da eugenia que o segundo modelo defende.
            Fazendo uma contextualização do tema com os dias atuais, nós, cidadãos que prezam pela diversidade e pelo direito de livre expressão, temos que ficar atentos com esses movimentos que vêm ressurgindo cada vez mais feroz dentro da sociedade global. Há como exemplo o movimento que ocorreu na França durante o período de eleições para a presidência, onde o discurso feito pela candidata ao cargo, Marine Le Pen (Front National), exaltava sentimentos como: patriotismo e até mesmo xenofobia, dado que ela prometeu expulsar alguns estrangeiros vigiados por “radicalização”. A vitória não veio à candidata, mas a necessidade de um segundo turno e a pequena margem percentual de diferença na contagem dos votos nos faz perceber que a sociedade está, de certa maneira, tomando cada vez mais esse discurso de ódio para si.

            Nacionalizando essa contextualização, podemos observar alguns candidatos e movimentos que se encaixariam nessa diretriz fascista: o deputado Jair Bolsonaro e o movimento Direita São Paulo são exemplos deles; o primeiro com seu discurso de ódio, que ao que se percebe não faz questão de esconder ou mascarar, clama por um patriotismo e para uma militarização do Brasil. O segundo, usando de uma estratégia mais nebulosa, tenta suscitar, também, uma necessidade patriótica por parte das massas, junto com seu sentimento de aversão à imigrantes, mais especificamente imigrantes muçulmanos, assim podemos classifica-lo como sendo um movimento xenofóbico, como foi possível observar durante seus protestos contra a aprovação da nova Lei de Imigração que tem como objetivo estabelecer direitos e deveres dos imigrantes. 


Relatório referente palestras dos dias 01 e 02 de agosto de 2017 do Simpósio: Velhas e Novas Formas de Direita e Autoritarismo.
 

A Ação das Forças Profundas Sobre o Estadista

Relatório de Leitura Crítica - História das Relações Internacionais I

            O texto analisado começa mostrando que há uma clara relação entre a “infraestrutura” das Relações Internacionais e o Estadista (Homem do Estado) – que no caso do texto intende-se que seja a figura do Diplomata –. O texto tem como principal objetivo responder quais os principais canais – meios externos – que tendem por influenciar em uma decisão diplomática, no fragmento analisado esses canais são chamados de fuerzas profundas são diretamente ligados à aspectos econômicos e ideológicos. Há quatro tipos de fuerzas: presión directa, presión indirecta, ambiente e presión social, no entanto nessa análise crítica falar-se-á sobre as três primeiras que considero de maior peso após leitura do fragmento – visto que ela é congruente às outras três do ponto de vista analisado – que tratarei respectivamente como pressão direta, pressão indireta, ambiente e pressão social.
            Começando pela pressão direta, depois de análise do sub-capítulo, Las Presiones Directas, foi percebido que refere-se as discussões entre Estado e Estados (seus atores principais: estatais e não-estatais), onde representantes de diferentes Nações/Países discutem seus interesses, as variantes que podem influenciar o estadista são a posse de informações, tipos de argumentos utilizados e até mesmo chantagens; este último que nos faz questionar quem realmente tem o “poder” tratando-se dos atores não-estatais: bancos, transacionais, etc; que possuem um grande poder de capital que sem dúvidas influencia na tomada de decisões.
            Tratando-se das pressões indiretas, além do fato do estadista sofrer a pressão diretamente do dos grupos citados anteriormente, ele acaba sofrendo pressão – agora de maneira oculta, mas vinda dos mesmos precursores da primeira pressão – através dos representantes de la opinión, que com o argumento utilizado no texto fica claro ser a classe da Imprensa, tal afirmação pode ser feita quando o autor cita a notícia publicada, em especial, nos jornais L'Œuvre e Echo de Paris com vinculavam uma parte essencial do projeto Laval-Hoare; (uma proposta de Samuel Hoare em conjunto com o então Primeiro Ministro Francês Pierre Laval para o fim da Segunda Guerra Ítalo-Etíope). Tal proposta interferiria nos anseios de atores poderosos, com a tempestade que tal publicação causou na França fez-se necessária a demissão do estadista Samuel.
            No posto de terceira fuerza profunda temos o ambiente, que nada mais é que a representação do cenário político, econômico e cultural na qual o estadista se encontra. Não menos importante a fuerza profunda que o ambiente influi sobre o estadista tem grandes reflexões decorrente de sua análise, seja ela feita correta ou incorretamente por parte do estadista. Se usada de maneira correta ela tende a ajudar no alcance dos objetivos dos Estados que estão em discussão. No entanto, se o ambiente não for corretamente analisado há o risco de decisões erradas serem tomadas o que acarretaria inúmeros problemas à uma determinada Nação. Como exemplo temos citado no texto a Crise de 1929, que ocorreu devido à uma má projeção econômica feita pelo governo Hoover.
            Dado o exposto, chega-se a conclusão de que os indivíduos que ocupam cargos diplomáticos, são como qualquer outro indivíduo, influenciados pelo meio social em que vivem,  tendendo a sofrer uma grande influência do meio externo. Também se notou que há inúmeros canais para essas influencias, sejam boas ou ruins, alcançarem o seu objetivo. E que os estadistas não estão menos passiveis a serem influenciados tanto quanto o resto de nós.

RENOUVIN, Pierre y DUROSELLE, Jean-Baptiste;  “XI. La Acción de las Fuerzas Profundas Sobre el Estadista”; in   Introducción a la Historia de las Relaciones Internacionales pp. 352-379

Revolução Francesa ou Revolução Ocidental?

Relatório de Leitura Crítica - História das Relações Internacionais II 


                 O texto tem como objetivo analisar o movimento “Revolução” de uma maneira diferente da convencional. Começando com a indagação: “Revolução francesa ou revolução ocidental?”, assim já percebemos que o tema é ratado de uma diferente perspectiva onde o autor discorre sobre os pontos cujos ele considera mais importante. O primeiro é em ralação ao tema, onde ele apresenta que um dos principais problemas no estudo das revoluções é a mensuração cronológica e geográfica do movimento. Uma visão socialista acerca do tema da revolução francesa expõe que, de fato, não foi uma revolução apenas da França, mas sim uma revolução da Europa como um todo. No entanto, devido ao fato ao fato dessas revoluções subsequentes terem tido com base os movimentos franceses tornou-se um hábito nomeá-los fazendo referência aos locais onde ele era mais focado, como se fossem movimentos geograficamente e ideologicamente isolados.
            No início do século XX surgiram alguns movimento que iam de encontro a esse tipo de nomenclatura para tais tipos de acontecimentos, essa visão advinha de uma corrente de estudo histórico universalista acerca das revoluções. Esse movimento teve influencia a partir dos estudos realizados sobre a revolução dos Estados Unidos, da Holanda, Itália e em diversos outros países que foram afetados por esses acontecimentos.
            Com o surgimento dessa perspectiva surgiu também um pensamento que não concordava com essa afirmação, temos o exemplo do historiador M. Renouvin, ele dizia que as estruturas sociais dos Estados Unidos, Inglaterra, Países Baixos, Suíça e França eram diferentes, por conseguinte as revoluções que surgiram nesses países não poderiam pertencer ao mesmo movimento, descartando assim a possibilidade de ser uma revolução ocidental. Esse ponto pode ser refutado quando se analisa que, cada região da Europa Ocidental tem sim suas individualidades, havendo assim diferentes ritmos na eclosão dos acontecimentos, porém as estruturas sociais são muito parecidas. Não satisfeitos com a resposta continuaram discordando da possibilidade de revolução ocidental apontando as diferenças entre os Estados Unidos e Europa Ocidental.
            Foi posto em dúvida a espontaneidade dos movimentos subsequentes ao Francês, com o pressuposto de que só aconteceram devido a grande propaganda que está fez, como se se não tivesse acontecido a revolução na França as forças que encaminharam as revoluções subsequentes não aconteceriam. Não se pode negar, com certeza, que não tenha havido certa influência disso nos regiões que circundam o território Francês, mas o que explicaria o desenrolar dos acontecimentos na Grã-Bretanha, Irlanda e Polônia?
            Ainda tentaram contestar essa visão apontando a postura da Igreja Católica, que armada com a Santa Inquisição, barrou sim, o movimento revolucionário na Espanha, que só alcançou a revolução por meio da Inglaterra. No entanto países como Holanda e Suíça estavam cheio de protestantes, para os quais, os argumentos necessitavam de algum valor. Na Itália, país majoritariamente católico, a igreja não impôs nenhum obstáculo à revolução, pois estava em um momento de crise onde o Jansenismo acabava com o poder do papa sobre os bispos e destes sobre os sacerdotes.

            Concluindo o capítulo o autor assinala como é possível demarcar os limites cronológicos e geográficos de uma revolução, e também faz um resumo das principais revoluções citadas no texto. A principal ideia que o autor tenta nos passar é que uma revolução não pode ser limita a uma única localidade, visto que o pensamento –ideologias - não possui fronteiras na visão universalista acerca das revoluções.

GODECHOT, Jacques; “Revolución Francesa o Revolución Occidental?”; in Las revoluciones (1770-1799). Barcelona: Editorial Labor, 1969, pp. 178-190.

Aparências: máscara para outros problemas?

              Em uma breve passagem pela estação de trem e metro da Barra Funda observei que havia uma exposição de fotografias da série “ ...